quarta-feira, 22 de junho de 2011

Até um relógio avariado

Dentro de algumas semanas, terão passado seis anos desde que terminei o MBA e, como seria de esperar, muito do que estudei encontra-se já esquecido. Os MBA são cursos que tratam de tudo em geral e de nada em particular. E por mais intensivo que este tenha sido, seria quase impossível ter aprendido em detalhe temas tão díspares, como economia e ética, entre outros.
Ainda assim, devo dizer que os MBA cumprem o objectivo de dar uma visão global… a quem esteja disposto a ver.

Uma das coisas que primeiro aprendi é que o importante é ter uma opinião, sendo talvez questão de segundo plano se essa opinião é fundamentada. Com o tempo percebi que havia por detrás desta ideia uma máxima simples: até um relógio avariado dá horas certas duas vezes por dia.

Assim se percebe que algumas pessoas opinem com a regularidade que outros respiram: de tempos em tempos acertam e, nesses momentos, a aparente clarividência faz-nos esquecer que quase sempre estiveram erradas.

terça-feira, 14 de junho de 2011

Entretanto aproveito o dia...

Sempre pensei que a imodéstia nos define como seres humanos. A imodéstia de nos crermos maiores do que o mundo, a imodéstia de criarmos deuses que nos criam à sua imagem e semelhança, a imodéstia de pensar que criamos o que, na realidade, apenas descobrimos.

Sempre pensei que tudo o que fomos e tudo o que seremos é tudo o quesomos. Não adianta correr, não adianta parar porque o presente é o que passado foi e o presente é o que o futuro será.

Sempre pensei que nada existe que não tenha existido, assim como nada existirá que não exista já. Cabe-nos somente tropeçar nas pedras do caminho (o que não é pouco!).

Sempre pensei que um dia deixarei de pensar e então, e só então, a noite em que vivemos será clara... pelo menos para mim.

domingo, 5 de junho de 2011

Em dia de eleições

Pelo simples facto de fazer parte de um grupo organizado, o homem desce vários degraus na escada da civilização. Isolado, ele pode ser um individuo culto, numa multidão não passa de um bárbaro […].


— Le Bon, Psicologia das Massas

Só enquanto indivíduos somos humanos – assim prefiro ler a frase de Le Bon. É uma interpretação branda que permite também um corolário optimista: o grupo tem capacidade de transformar o(s) individuo(s) em sobre-humano(s). Existe, contudo, uma condição sine qua non: primeiro, que se pense; depois, que se esteja disposto a mudar o pensamento.

Pensar é um acto solitário que só acontece verdadeiramente quando livre das grilhetas do grupo. Só o individuo pensa e só o individuo pensante tem uma opinião. As opiniões, no entanto, terão tanto mais força quanto mais o grupo lhes encontrar sentido. O grupo é responsável por questionar as opiniões e encontrar novos sentidos.

Talvez seja isto que que falha nas democracias de hoje: queremos pensar em grupo o que não pensamos individualmente.